O grande desafio da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é seu diagnóstico tardio, pois os sintomas não são valorizados até que se agravem. Com isso, essa condição que pode ser prevenida na maioria das vezes, torna-se de difícil controle. A DPOC, também conhecida como enfisema pulmonar ou bronquite crônica, é mais comum em pessoas com mais de 50 anos de idade e está associada, principalmente, à exposição ao fumo, poluição, poeira e produtos químicos. Devido ao absenteísmo, presenteísmo e aposentadorias precoces, seus custos são sentidos não apenas por aqueles que a desenvolvem, mas também pelos empregadores e toda a economia do país.
Algumas regiões do país já conseguiram desenvolver iniciativas exitosas para melhorar esse cenário. Especialistas dizem que o segredo é engajar os setores público, privado e o terceiro-setor no propósito de aprimorar políticas e programas para o lidar com a DPOC.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) , a principal conduta para evitar a DPOC é não fumar e apostar no controle de todos os produtos fumígenos no Brasil. A pneumologista Angela Honda, líder de Programas Educacionais da Fundação ProAR alerta “a prevalência da DPOC é de 15% em pessoas acima de 40 anos” e, ao mesmo tempo, se demonstra grande preocupação com o subdiagnóstico. Segundo ela, “existe um subdiagnóstico em torno de 70 a 80%, e isso acontece muito pelo desconhecimento da condição, tanto pelos profissionais da saúde quanto pela população em geral”. Ela ainda ressalta que associado a isso está o elevado número de óbitos causado pela DPOC: “são 98 óbitos por dia atribuídos à DPOC no Brasil”. Para ela, com a disponibilidade de diagnóstico simples e tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), o cenário deveria ser diferente.
DPOC e os impactos na economia
De acordo com Angela, “são 510 milhões de reais em despesa anuais com internação e hospitalização de pessoas com DPOC. E, em relação à parte previdenciária, observa-se antecipação da aposentadoria dessas pessoas em dez anos, em média”.
Paulo Correa, coordenador da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) diz: “Em relação às perdas econômicas, foi apontado em um estudo que o maior impacto da DPOC é nos países de renda baixa e média”. Outro dado por ele relatado é o gasto dos empregadores. Segundo Paulo, “cerca de 17 mil reais a mais por ano custam funcionários com DPOC, devido à perda de produtividade”. Ele explica que “o custo de funcionários com DPOC é três vezes maior devido ao diagnóstico tardio e ao tratamento subóptimo”.
Ações para mais diagnósticos de DPOC
Diante de tantos desafios, Alcina Romero, diretora da Atenção Especializada da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (SESAB) advoga em favor da estratégia da organização do Cuidado Integrado e do trabalho realizado nas Policlínicas. “É a grande aposta de se conseguir melhorar o subdiagnóstico e iniciar um tratamento mais precoce. O estado da Bahia tem o programa de Oxigênio Terapia Domiciliar, custeado 100% com recurso estadual, com 967 pessoas diagnosticadas com DPOC atendidas com oxigênio”. A gestora relata que as policlínicas permitem o acesso ao especialista e aos exames em um só local. Acessadas a partir do encaminhamento da Atenção Primária de cada cidade, que, após a consulta com o pneumologista, recebe a pessoa de volta para dar continuidade ao tratamento.
Para a fisioterapeuta Marcella Furtado, apoiadora técnica do Núcleo de Atenção Primária da Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde de Uberlândia, a estratégia de parcerias público-privadas tem sido fundamental para avançar no diagnóstico e cuidados da DPOC e outras condições crônicas não transmissíveis. Segundo ela, “conseguimos alguns laboratórios que prestam serviço de espirometria e, em contrapartida, fazemos capacitações da equipe e de alguns profissionais da atenção primária para realizar a espirometria”.
O doutor em Fisiologia Humana e fundador do FórumCCNTs, Mark Barone, enfatiza que “será muito difícil alcançarmos a meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3.4 da ONU, de reduzir em um terço as mortes prematuras por doenças crônicas não transmissíveis enquanto mais de 70% das pessoas com DPOC não estiverem diagnosticadas e tratadas”.
É unânime entre os especialistas consultados que as parcerias e programas para DPOC devem começar na Atenção Primária, para prevenir mais, diagnosticar oportunamente e diminuir casos de aposentadorias precoces, hospitalizações, internações e óbitos prematuros.
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